quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal, época de compaixão


    Esta época, nos faz refletir um pouco mais sobre nossa vida e como nos sentimos em relação ao próximo. Ou melhor, deveríamos refletir, pois se preocupar com o consumismo e a vaidade o mundo já está farto. O Natal já não é como antigamente, que as crianças ganhavam presente apenas neste dia. Para elas o sentido e o encanto pode ter perdido um pouco, pois ganham coisas o ano inteiro. Antes não, ganhávamos presentes só em datas como Natal, aniversário e dia da Criança; Antes, agora digo, antes dos meus pais nascerem, os pais deles viam o Natal de outra maneira, a maioria morava na roça e vinha para a igreja, (detalhe A PÉ), comemorar o Natal. Hoje, nós, os adolescentes e as crianças temos preguiça de ir " na esquina sem carro".
    Bom, acho que é por isso que as pessoas “antigas” duram mais e dizem que o Natal era melhor no tempo delas, afinal, a preocupação antes era em vir para a cidade e não com que roupa vir, pois a maioria andava descalço.
    Mas voltando ao assunto do título, “compaixão”, gostaria de dividir um texto que meu professor, João Francisco Duarte, que gosta muito de Rubem Alves nos passou. Vale à pena ler!  Felice Natale a voi!
  
 
“Meu coração fica com o coração dela”

Rubem Alves

“A boca fala do que está cheio o coração”: esse é um
ditado da sabedoria judaica que se encontra nas
escrituras sagradas. Bem que poderia ser a explicação
sumária daquilo que a psicanálise tenta fazer: ouvir o
que a boca fala para chegar ao que o coração sente.
Acontece comigo. Cada texto é uma revelação do
coração de quem escreve.
Pois o meu coração ficou cheio com uma coisa que me disse minha neta Camila, de 11 anos. O que ela falou
fez meu coração doer. Como resultado,fico pensando e falando sempre a mesma coisa. A Camila estava na sala de televisão sozinha, chorando. Fui conversar com ela para saber o que estava acontecendo. E foi isso que ela me disse: “Vovô, quando eu vejo uma pessoa sofrendo, eu sofro também. O meu coração fica com o coração dela”.
Percebi que o coração da Camila conhecia aquilo que se chama “compaixão”. Compaixão, no seu sentido etimológico, quer dizer “sofrer com”. Não estou sofrendo, mas vejo uma pessoa sofrer. Aí, eu sofro com ela. Ponho o outro dentro de mim. Esse é o sentido do amor: ter o outro dentro da gente. O apóstolo Paulo escreveu que posso dar tudo o que tenho aos pobres, mas, se me faltar o amor, nada serei, porque posso dar com as mãos sem que o coração sinta.
A compaixão é uma maneira de sentir. É dela que brota a ética. Alguém foi se aconselhar com santo Agostinho sobre o que fazer numa determinada situação. Ele respondeu curto e definitivo: “Ama e faze o que quiseres”. Pois não é óbvio? Se tenho compaixão, nada de mau poderei fazer a quem quer que seja.
Fernando Pessoa escreveu um curto poema em que descreve a sua compaixão. Por favor, leia devagar: “Aquele arbusto fenece, e vai com ele parte da minha vida. Em tudo quanto olhei fiquei em parte. Com tudo quanto vi, se passa, passo. Nem distingue a memória do que vi do que fui”. Compaixão por um arbusto... Ele explica esse mistério da alma humana dizendo que “em tudo quando olhei fiquei em parte. Com tudo quanto vi, se passa, passo...”. Os olhos, movidos pela compaixão, o faziam participante da sorte do pequeno arbusto.
Eu já sabia disso, mas nunca havia enchido o meu coração a ponto de doer. Doeu porque liguei a fala da Camila a essa tristeza que está acontecendo no Brasil. Os corruptos são homens que passaram pelas escolas, são portadores de muitos saberes. Tendo tantos saberes, o que lhes falta? Falta-lhes compaixão.
A falta de compaixão é uma perturbação do olhar. Olhamos, vemos, mas a coisa que vemos fica fora de nós. Vejo os velhos e posso até mesmo escrever uma tese sobre eles, se eu for um professor universitário, mas a tristeza do velho é só dele, não entra em mim. Durmo bem. Nossas florestas vão aos poucos se transformando em desertos, mas isso não me faz sofrer. Não as sinto como uma ferida na minha carne.
Vejo as crianças mendigando nos semáforos, mas não me sinto uma criança mendigando em um semáforo. Vejo os meus alunos na salas de aulas, mas meu dever de professor é dar o programa e não sentir o que os meus alunos estão sentindo.
De que vale o conhecimento sem compaixão? Todas as atrocidades que caracterizam os nossos tempos foram feitas com a cumplicidade do conhecimento científico. Parece que a inteligência dos maus é mais poderosa que a inteligência dos bons.
 Sabemos como ensinar saberes. Há muita ciência escrita sobre isso. Não me lembro, no entanto, de nenhum texto pedagógico que se proponha a ensinar a compaixão. Talvez o livrinho “Como Amar uma Criança” do Janusz Korczak - mas Korczak é uma exceção. Ele sabia que, para ensinar algo a uma criança, é preciso amá-la primeiro. Korczak era um romântico. Por isso o amo.
Aí, fiz a mim mesmo uma pergunta pedagógica: “Como ensinar a compaixão?”. Conversando sobre isso com minha filha Raquel, arquiteta, ela se lembrou de um incidente dos seus primeiros anos de escola, quando ainda era uma menina de sete anos. Seria o aniversário da faxineira, uma mulher que todos amavam. A classe se reuniu para escolher o seu presente. Ganhou por unanimidade que, no dia do seu aniversário, as crianças fariam o seu trabalho de faxina. Disse-me a Raquel que a faxineira chorou.
Sei que as crianças aprendem com um olhar especial, o olhar de suas professoras. Elas sabem quando as professoras as olham com os mesmos olhos com os quais Fernando Pessoa olhava o arbusto quando escreveu o poema. Sei também que as histórias provocam compaixão quando o leitor se identifica com um personagem. Sei de um menininho que se pôs a chorar ao final da história “O Patinho que Não Aprendeu a Voar”. Ele teve compaixão do patinho. Identificou-se com ele. Vai carregar o patinho dentro de si, embora o patinho não exista. Lemos histórias para as crianças e para nós mesmos não só para ensinar a nossa língua mas também para ensinar a compaixão. Mas continuo perdido. Preciso que vocês me ajudem. Como se pode ensinar a compaixão?
 Publicado na Folha de São Paulo – Sinapse – 27 de setembro de 2005.

domingo, 5 de dezembro de 2010

É preciso ser um computador e REINICIAR

Estranho pensar que em alguns momentos da vida somos como
um computador.

Há momentos  que somente apertar a tecla"enter" já não dá mais.
Algumas vezes é necessário ser como o computador que quando tem algum problema, reiniciamos e tudo volta ao normal. Sempre naquele momento que você mais precisa do PC ele não liga ou trava. Sinal de que existe errado com ele.
Nossa vida é assim, às vezes há algo de errado, estamos em uma situação em que é preciso recomeçar e  "reiniciar" o computador que existe dentro da gente.
Nem sempre queremos, porque tudo parecia estar tudo bem, mas porque deu problema?  Sinal de que havia algo de errado e não estávamos percebendo. Vamos vivendo um dia atrás do outro sem pensar, só teclando "enter" e muitas vezes fazendo dos dias um "Ctrl C" e "Ctrl V". Não podemos fazer que todos os dias sejam iguais, pois assim a vida deixará de ter sentido. É preciso procurar o sentido, a graça, o sabor de viver. Cada um da sua maneira, com seus objetivos e metas, mas TEM que encontrar!
Por mais que o percurso mude, é preciso REINICIAR aquele botãozinho chamado VIDA ( presente de Deus). Nem sempre ser um computador funciona, pois não dá simplismente para ignorar e "deletar".

Vamos refletir sobre nossa vida, aproveitar que o ano está acabando e novas chances de recomeço estão ai!

Grande Beijo!